Devido ao aumento de casos do COVID-19 e a necessidade de fabricação de máscaras caseiras, decidi fazer um post com visão mais técnica sobre produção de máscaras durante esse período, seja pra você e sua família ou para vender.
Estava relutante em escrever o post para não ser apenas “mais um” a escrever sobre o assunto.
Então escolhi estudar a parte técnica e, para ajudar, a ABNT liberou gratuitamente as normas técnicas para fabricação tanto de máscaras e respiradores como de roupa cirurgica descartável.
Preparei 2 posts: um mais técnico, explicando sobre materiais, medidas e normas e um segundo com tutorial de 3 modelos de máscara.
Esse é o técnico, onde vou abordar todos os cuidados que é preciso ter na hora de fabricar máscaras em casa, mitos e verdades sobre máscaras caseiras e recomendações tanto do ministro da saúde como da ABNT.
Glossário
Antes de começar, é importante que você se familiarize com algumas nomenclaturas usadas, tanto pela ABNT quanto pelo Ministério da Saúde.
Antes de começar, é importante que você se familiarize com algumas nomenclaturas usadas, tanto pela ABNT quanto pelo Ministério da Saúde.
EPI – Equipamento de Proteção Individual
Utilizada para designar equipamentos de segurança de uso individual. O tipo de equipamento utilizado depende do tipo de atividade realizada. Cada profissão tem um EPI próprio. No caso de COVID-19, utilizamos os mesmos equipamentos que profissionais de saúde. EX: máscaras cirúrgicas, luvas, toucas e aventais descartáveis.
PFF – Peça Facial Filtrante
Utilizada para identificar porção facial do EPI e difere pela qualidade de filtragem, taol como:
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- PFF1: proteção contra poeiras e névoas partículas não tóxicas (penetração máx. através do filtro de 20%).
- PFF2: proteção contra partículas finas, fumos e névoas tóxicas (penetração máx. através do filtro de 6%).
- PFF3: contra partículas tóxicas finíssimas e radionuclídeos e (penetração máx. através do filtro de 0,1%).
TNT – Tecido Não Tecido
Denomina-se não tecido qualquer material com aparência têxtil porém não foi confeccionado em nenhum tipo de tear, por isso “não tecido”.
O produto é definido pela norma NBR-13370 e caracterizado como estrutura plana, flexível e porosa, constituída de véu ou manta de fibras ou filamentos, orientados direcionalmente ou ao acaso. A estrutura pode ser elaborada por processo mecânico (fricção), químico (adesão) ou térmico (coesão), ou ainda pela combinação de dois ou dos três processos
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
Órgão responsável pela normalização técnica no Brasil, fornecendo insumos ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. Trata-se de uma entidade privada e sem fins lucrativos e de utilidade pública, fundada em 1940.
Recomendações do Ministério da Saúde
O ministro da saúde, em uma coletiva, mencionou a importância do uso de máscaras sendo elas industrializadas ou caseiras. O uso é recomendado pois algumas pessoas que já estão com o vírus não apresentam sintomas, mas podem transmitir da mesma forma que uma pessoa que apresenta os sintomas.
Como a procura por máscaras fez com que houvesse escassez no mercado, o ministro disse em coletiva que é melhor o uso de uma máscara caseira que nenhuma. Por conta disso, diversas pessoas estão correndo atrás de fazerem ou comprarem suas máscaras de pequenos produtores, como costureiras e pequenas oficinas de costuras.
O uso de máscaras industrializadas está sendo direcionado apenas para profissionais de saúde. O que faz com que o uso de máscaras caseiras ainda mais recomendado para a população em geral.
Nesse post separei todos os cuidados e recomendações do ministério da saúde e as normas técnicas utilizadas na confecção dessas máscaras.
Normas Técnicas
A ABNT sob pedido do ministério da saúde liberou o para download gratuito as principais normas utilizadas para a produção de EPIs e respiradores.
Abaixo segue a lista com as normas disponíveis gratuitamente para download, caso você queira se aprofundar no assunto. Para fazer o download é necessário fazer um cadastro no site da ABNT, depois disso, basta clicar nas normas que deseja baixar.
Confira a lista de normas abaixo:
ABNT NBR ISO 13688:2017 – Vestimentas de proteção – Requisitos gerais
ABNT NBR 13697:2010 – Equipamento de proteção respiratória — Filtros para partículas
ABNT NBR 13698:2011 – Equipamento de proteção respiratória — Peça semifacial filtrante para partículas
ABNT NBR 14873:2002 – Não tecido para artigos de uso odonto-médico-hospitalar – Determinação da eficiência da filtração bacteriológica
ABNT NBR 15052:2004 – Artigos de não tecido de uso odonto-médico-hospitalar – Máscaras cirúrgicas – Requisitos
ABNT NBR 16064:2016 – Produtos têxteis para saúde – Campos cirúrgicos, aventais e roupas para sala limpa, utilizados por pacientes e profissionais de saúde e para equipamento – Requisitos e métodos de ensaio
ABNT NBR 16360:2015 – Proteção ocular pessoal — Protetor ocular e facial tipo tela — Requisitos
Para a fabricação das máscaras caseiras utilizaremos as normas 15052, 13698 e 13697, sendo que as duas últimas são mais referências para materiais filtrantes. O foco das normas está mais nos ensaios laboratoriais para medir a eficácia das máscaras.
Para pequenos fabricantes domésticos, não temos acesso nem aos laboratórios, nem aos materiais e nem ao maquinário utilizado para a fabricação industrial de máscaras. A intenção ao se fazer máscaras caseiras é dar acesso a população os requisitos mínimos para segurança coletiva.
Neste artigo na página do Ministério da Saúde você pode os detalhes que estou abordando neste post sobre as máscaras caseiras. (leia aqui )
Tipos de máscara
As máscaras mais que estão sendo mais utilizadas e procuradas são as de modelo Cirúrgico, feitas em TNT com material filtrante entre as camadas, pregas e clipe nasal.
O outro modelo é o PFF N95, que é mais utilizado por profissionais da indústria ou construção civil. Ele tem formato de concha e protege a boca e nariz. É feito com três camadas prensadas, duas de TNT com uma camada central filtrante depois é selada na parte inferior para formar a “concha”. O material, por ser prensado, é mais rígido que a cirúrgica, também possui clipe nasal para o contorno do nariz e pode ter ou não uma válvula filtrante.
Vida Útil
No caso do modelo cirúrgico em TNT, industrializadas ou caseiras, recomenda-se o descarte após o uso e não utilizá-lo por mais de duas horas.
No caso das máscaras tipo N95 industrializadas, tem um tempo de vida útil um pouco maior, limitada conforme o tempo de uso (contínuo ou não), grau de saturação do ar ambiente, cuidados, higiene ou dano.
Precisa ser trocada sempre que se perceber um aumento na dificuldade de respiração através da máscara – significa que a camada filtrante encontra-se saturada e ocasionando desconforto ao usuário.
Máscaras confeccionadas em outro material, tipo tricoline 100% algodão, são reaproveitáveis e é recomendada a higienização após cada uso.
Higienização
As máscaras de modelo Cirúrgico em TNT, industrializadas ou caseiras, não podem ser higienizadas, tendo que ser descartadas após o uso.
Máscaras tipo N95 industrializadas, recomenda-se o descarte assim que notar dificuldade para respirar durante a utilização. De qualquer forma, mesmo que ainda não tenha notado essa dificuldade, é recomendado o descarte após o uso contínuo por mais de duas horas. Como não podem ser higienizadas, o risco de contaminação é maior.
Para máscaras de modelo Cirúrgico ou N95 feitas em outro material mais resistente, como tricoline 100% algodão, a higienização deve ser feita através da lavagem da máscara, preferencialmente feita de maneira manual para não danificar as amarras.
Recomenda-se deixar de molho por 20 minutos em água com sabão e desinfetante ou água sanitária para uma higienização mais completa. Após secar, deve-se passar a ferro para a esterilização completa.
O Ministério da Saúde também recomenda que a pessoa tenha mais de uma máscara, para que possa trocar caso a utilização ultrapasse o período de duas horas. A higienização deve ser feita assim que apessoa retornar para casa.
Requisitos Mínimos
A ABNT recomenda requisitos mínimos para fabricação de máscaras cirúrgicas e são elas:
Dimensões mínimas: as dimensões mínimas para a fabricação da máscara é de 175 mm (17,5 cm) de largura por 90 mm (9 cm) de altura. Dimensões essa da peça finalizada.
Pregas: Para que a máscara se molde ao rosto, é necessário que ela possua pregas. A ABNT recomenda no mínimo duas pregas dividindo a máscara em três partes de 30 mm (3 cm), a profundidade das pregas não é estipulada na norma, mas tem que ser no mínimo de 15 mm (1,5 cm) para que ela possa cobrir a boca e nariz seguindo o contorno do perfil do rosto.
Fixação: A fixação deve ser feita através de tiras ou elásticos.
No caso das tiras, devem ser fixadas na parte horizontal ou vertical da máscara e deve ter medida mínima de 800 mm (80cm). A imagem fornecida na norma da ABNT indica que as tiras foram fixadas na lateral (porção vertical da máscara) e nesses 800 mm está incluído a medida vertical da máscara, 90 mm, fixada no centro das tiras, sobrando assim 710 mm (71 cm) de área útil a ser dividida em duas partes iguais. Podemos concluir que a medida útil mínima para as tiras é de 35,5 para cada lado.
Para os elásticos é recomendado que tenham a medida útil de 100 mm (10cm) fixados nas partes verticais da máscara, sendo uma extremidade na parte superior e outra na inferior.
A norma não deixa claro quanto ao tipo de elástico que deva ser utilizado. Sendo assim, é possível utilizar elásticos roliços ou chatos, de acordo com a disponibilidade encontrada nos fornecedores.
Clipe nasal: o clipe nasal deve ser fixado na porção horizontal da máscara e indicará a parte superior. Para sua fixação, ele deve ficar na camada de cobertura da máscara não podendo ser ficar aparente e sua medida mínima é de 130 mm (13 cm).
Materiais
As máscaras industrializadas são produzidas em TNT sem fibra de vidro na composição e livre de odores. Ambos os modelos tem obrigatoriamente uma camada de material filtrante e passam por um processo de esterilização antes de serem embaladas.
No caso das máscaras caseiras feitas no modelo Cirúrgico em TNT, onde o pequeno produtor não tem acesso ao material filtrante, é recomendado utilizar três camadas de TNT. O TNT mais utilizado é o de gramatura 40, por ser mais maleável. Porém, pode ser utilizado os de gramatura 60 ou 80, sendo que o de gramatura 80 é menos maleável para se utilizar em 3 camadas.
Ainda podem-se utilizar as duas camadas externas em gramatura 40 e o miolo (o que seria a parte filtrante) pode ser em gramatura 60 ou 80 para maior eficiência e manter a maleabilidade da máscara do tipo cirúrgica.
A máscara tipo N95 também pode ser feita em TNT mas, por ser mais “armada”, pode ser fabricada com três camadas de TNT de gramatura 80.
Para máscaras caseiras reutilizáveis é recomendado o uso de tecidos 100% algodão, por serem mais fáceis de serem higienizados e provocar menos alergias de toque. Algumas pessoas são alérgicas ao toque do poliéster, podendo causar irritação da pele. Por isso opte por materiais 100% algodão para a parte que ficará em contato com a pele.
Para a parte filtrante, é possível utilizar algum tecido mais grosso, como uma sarja ou denim, de gramatura média ou pesada. Mas o mais recomendado pela similaridade com o material filtrante profissional é o feltro.
Apesar de ser 100% poliéster ou 100% acrílico, o feltro também é um material não tecido onde as fibras são prensadas e densas, dificultando a passagem de partículas.
Neste artigo do ministério da saúde está descrito que a máscara pode ser feita apenas com duas camadas de tecido grosso, dispensando a camada de material filtrante. (leia aqui)
No caso dos tecidos para máscaras caseiras reutilizáveis, estes deverão ter uma trama mais fechada para dificultar a passagem de micropartículas. Os tecidos mais recomendados são:
- Tricoline;
- Sarja leve;
- Gabardine;
- Oxford;
- Lã fria;
- Calicô (algodão crú) de gramatura média.
Lembrando que a parte que ficará em contato com a pele (forro) deverá ser de material 100% natural ou a maior parte da composição natural.
Para o clipe nasal, recomenda-se o uso de material maleável que molde o formato do nariz. Podem ser utilizadas tiras de alumínio ou qualquer outro material que cumpra essa função, tais como arame floral, amarrilho de embalagem de pão, arame comum de 1 mm, fio elétrico de cobre (filamento único de 1 mm).
Mitos e Verdades sobre máscaras caseiras
Existe um vídeo circulando onde um homem mostra a ineficiência das máscaras caseiras utilizando um desodorante aerosol para mostrar que as partículas ultrapassam a máscara. (link aqui)
Nesse caso as máscaras são feitas de camada única de TNT fino, o que não é o recomendado. E vale lembrar que a embalagem aerossol é pressurizada, o líquido sai com uma pressão muito mais elevada que a respiração humana, podendo ser comparado a um espirro de alta intensidade.
Realmente, a máscara caseira não é tão eficiente quanto uma produzida industrialmente, mas é mais eficiente do que não usar nada. Por isso, prefira utilizar máscaras de TNT que sejam produzidas com o três camadas do material.
Cuidado na hora de produzir.
No caso do TNT, não é recomendado lavar antes de começar a produzir, pois a lavagem acelera a deterioração do material.
Para máscaras que serão produzidas com tecidos é recomendável a lavagem do tecido antes da produção, para que o tecido seja pré encolhido e não deforme a máscara e também para a remoção de gomas utilizadas na fabricação do tecido.
Caso você tenha intenção de fabricar máscaras para vender, é necessário que você utilize máscara e luvas durante todo o processo para não contaminar a máscara dos clientes.
No caso de máscaras em tecido, passe-as para esterilização com calor do ferro e as embale para proteger depois de esterilizadas.
Máscaras de TNT podem ser passadas desde que utilizem um tecido de algodão para não danificar o material.
Máscaras caseiras são mandatórias nesse momento pois é necessário deixar as industrializadas para os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate ao COVID-19.
A ideia deste post foi justamente ajudar a esclarecer algumas dúvidas que tenho visto em grupos de costura que faço parte no Facebook.
A intenção foi simplificar um pouco as normas da ABNT para pessoas que não têm tanto conhecimento da linguagem técnica. O ministro da saúde já liberou e recomendou o uso de máscaras caseiras que, segundo ele, são melhores que nada.
Caso você tenha interesse em fazer máscaras para sua família ou para vender, saiba que eu já tenho preparado um tutorial onde ensinarei três modelo de máscaras, as duas citadas nesse post, modelo tipo Cirúrgico e N95 e uma que eu desenvolvi, visando maior cobertura do rosto.
O que achou do post? Ele te ajudou a tirar suas dúvidas sobre máscaras caseiras? Conte pra gente nos comentários!